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gildot |
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| ECON: sair da crise comprando produtos PT | | | | Contribuído por joao em 04-03-03 0:00 do departamento literacia-económica | | | | | | | cgd escreve "Vinha um artigo no expresso do último sábado (1 mar) deveras interessante. Era em jeito de artigo-entrevista, em que os visados eram os ex-ministros das finanças Silva Lopes e Medina Carreira.
A abrir as hostilidades :-) começava logo com um rotundo (transcrição não literal): "o cidadão comum pouco pode fazer para ajudar a resolver a crise". Depois explicavam que quem pode ajudar, são os empresários que consigam investir na produçao de bens transaccionáveis de alto rendimento exportáveis." | | | | | | " O artigo, bastante compacto e simples, esclarecia a origem dos males (o país gastou o dinheiro do passado a comprar bens ao exterior e a endividar-se) e que se tinha chegado a uma situação sem saídas. Para se aumentar a produção interna, é preciso dinheiro para reformar a estrutura produtiva, que não pode ser gasto porque não há e porque existem limites ao endividamento (the 'd' word!). Por outro lado o consumo interno não aumenta, ou porque as pessoas não têm dinheiro para o fazer, ou não têm confiança no futuro. Mas ainda se quem dispõe de fundos começasse a consumir mais, isso iria desfalcar as instituições financeiras, que teriam de se endividar ainda mais ao estrangeiro.
A parte que eu achei mais interessante foi uma espécie de desabafo de um deles (não me lembro qual) que dizia algo do estilo: uma forma de desagravar a crise era substituir o consumo de bens externos por internos. Aqui o português comum podia ajudar, comprando produtos portugueses em vez de estrangeiros.
A questão aqui é: e se de um modo geral, todos os paises comecarem a preferir os seus próprios produtos? Na prática regride-se aos antigos modelos onde as trocas comerciais internacionais eram menos fluentes.(?) E do ponto de vista prático, vamos insistir nos produtos nacionais, ainda que estes sejam mais caros para a mesma qualidade? E se forem de facto piores? Eu por mim estou disponível para preferir produtos PT em deterimento de estrangeiros -- aliás, já compro papel renova há muito tempo :-) -- mas... vou trocar coca-cola por quê? :-)
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Esta discussão foi arquivada. Não se pode acrescentar nenhum comentário. | | | A parte que eu achei mais interessante foi uma espécie de desabafo de um deles (não me lembro qual) que dizia algo do estilo: uma forma de desagravar a crise era substituir o consumo de bens externos por internos. Aqui o português comum podia ajudar, comprando produtos portugueses em vez de estrangeiros. Admitindo que os portugueses não são masoquistas, se eles preferem determinados produtos estrangeiros a alternativas portuguesas isso deve-se ao facto de eles acharem que esses produtos, em última análise, têm uma relação qualidade/preço melhor. Se os portugueses passassem a comprar os substitutos nacionais isso implicaria uma perda de qualidade de vida, uma vez que, ou estariam a comprar produtos de qualidade inferior ou estariam a comprar produtos de igual qualidade, mas mais caros. Neste último caso teriam forçosamente que reduzir o consumo total. Ou seja, a actividade económica seria estimulada à custa da qualidade de vida dos portugueses. Esse tipo de medidas só servem para tirar de um lado para pôr noutro e neste caso quem perde é o consumidor e quem ganha é o empresário português incompetente que tem mais uma razão para não se modernizar para enfrentar a concorrência. No caso de os portugueses comprarem produtos estrangeiros de pior qualidade e mais caros por estarem enganados, qualquer campanha publicitária destinada a corrigir o erro, a qual teria que destinguir quais os produtos estrangeiros em relação aos quais os portugueses estão enganados e quais os produtos em relação aos quais os portugueses estão certos, seria demasiado cara. Se fosse barata, os próprios empresários portugueses estariam interessados em fazê-la com o seu próprio dinheiro.
---- joao nonio.com - ciência, tecnologia e cultura |
| | | | | O teu raciocinio tem lógica e faz sentido. Mas apenas se o comportamento generalizado (das massas) for em média racional, que nem sempre é. Tomemos o caso das roupas: é muito in comprar roupas de marca espanhola, tipo zara, por exemplo. Mas existem marcas equivalentes portuguesas (lanidor) com roupa de igual qualidade. Não sei a relação dos preços (mas posso perguntar à minha mulher :-). Não tenho visto publicidade de nenhumas dessas marcas nos últimos tempos. Isso significa que as pessoas preferem, escolhem e gastam dinheiro, em marcas estrangeiras, apenas porque são estrangeiras, e não por razões... ein... racionais. Atenção, eu não estou a dizer que concordo em escolher sempre produtos portugueses. Mas parece-me que muitas análises lógicas (como a tua) apenas fazem sentido partindo de algumas premissas, que em muitos casos não se verificam. -- carlos
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| | | | As conclusões continuam a ser válidam mesmo que as pessoas sejam irracionais. O que interessa é que as pessoas não sejam masoquistas. A moda não serve só para cobrir o corpo, caso contrário andavamos todos mal vestidos. A moda serve também para satisfazer necessidades culturais, algumas das quais poderiam ser consideradas irracionais. O que interessa aqui é que as pessoas valorizam a moda estrangeira e ninguém as vai convencer que a moda nacional é igual porque o facto de ser estrangeira é uma componente importante do valor atribuido. Se as pessoas tivessem forçosamente que comprar português iriam sentir uma perda de valor. O que há a considerar aqui é que as pessoas são de facto irracionais e que a racionalidade é uma opção que pode ser dolorosa para algumas pessoas. Por outro lado, admitindo que há casos em que a compra de produtos estrangeiros é irracional, a promoção de produtos portugueses só por serem portugueses não torna as coisas melhores. E porquê? Porque há muito mais maneiras de uma pessoa ser irracional do que de ser racional. Promover produtos nacionais é uma medida geral e cega às irracionalidades particulares. Há certamente casos em que as pessoas compram produtos estrangeiros por boas razões e nestes casos uma campanha a favor de produtos nacionais iria aumentar a irracionalidade em vez de a diminuir, o que é mau para a economia. É ainda necessário considerar o custo de reduzir a irracionalidade. Como cada pessoa é irracional à sua maneira e como não há uma campanha de esclarecimento que sirva a todos, só um programa vasto de educação dos consumidores é que acabaria com a irracionalidade a favor da racionalidade. Mas tal programa é caro e utópico.
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| | | | Mas isso não muda a conclusão porque: - a influencia do marketing tanto serve para convencer os portugueses a comprar produtos estrangeiros como a comprar produtos nacionais. Pode ser que o marketing perturbe as preferências, mas não sabemos em que sentido e mesmo que soubessemos o efeito seria reduzido para um dos lados;
- o marketing também serve para mostrar que determinados produtos portugueses são melhores que os estrangeiros;
- mesmo que se aceite que as peferências dos portugueses são deturpadas pelo marketing a favor de produtos estrangeiros, não há forma eficiente de inverter essa situação. Se existisse, os empresários portugueses, que seriam quem mais tem a ganhar, já a teriam posto em práctica.
- mesmo que se aceite que as peferências dos portugueses são deturpadas pelo marketing a favor de produtos estrangeiros, falta descobrir quais são exactamente os casos em que há deturpação: quais portugueses, onde é que estão, que idade têm, quais produtos estrangeiros, que alternativas portuguesas. Se não se souber nada disso, não é possível actuar.
---- joao nonio.com - ciência, tecnologia e cultura |
| | | | Comprar produtos portugueses, mesmo que sejam de baixa qualidade, nao melhora a economia portuguesa; muito pelo contrario, piora a sua competitividade, qualidade e sobrevivencia. "Buy American" is Un-American (disclaimer: Ayn Rand link) Cumprimentos Mario Valente |
| | | | | Basicamente o artigo defende as conhecidas máximas: a economia não é um jogo de soma zero e o desenvolvimento é universal. O problema é que estas máximas em si não são completamente universais. Por exemplo, os países de terceiro mundo não devem concordar propriamente com o facto do desenvolvimento ser universal. Embora beneficiem com o desenvolvimento doutros paises a nivel de medicamentacao, maquinaria, etc... esse beneficio não abrange a generalidade das populações. Quanto à compra de produtos nacionais, concordo que enquanto opção cega possa ter efeitos nefastos. O problema é quando as opções cegas vão sempre para produtos estrangeiros. O investimento é feito nesses países. O único retorno do que se gasta, é no mercado final da distribuição e venda (a zara por estar em portugal tem N lojas que empregam M pessoas e contribui para aumentar o mercado da distribuição. apenas) -- carlos
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