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DNS, propriedade intelectual, escassez, regras
Contribuído por jmce em 24-07-00 18:41
do departamento ecossistema-global
dns Na discussão sobre o portugal.tv, o leitor shakazulu pedia sugestões para a solução dos problemas "político-económicos" do DNS, nomeadamente a especulação sobre nomes. Soluções não são fáceis de encontrar, e convém começar por conhecer as causas. Algumas, mesmo que sejam óbvias para muitos leitores do Gildot, podem servir para continuar a discussão. Seria interessante vermos aqui contribuições de quem conheça melhor alguns "zunzuns" sobre as tendências da ICANN e até os resultados práticos das regras portuguesas.

One main theme [at ISOC Inet'97] was DNS and the governmental/political issues it had brought up. Browsing my notes I came across a sentence: "What if Jon Postel dies?" and remembered the discussion.
-- Toni Alatalo, in Condolences and Remembrances for Jon Postel

Jon Postel was Internet Society member Number One. He lived in a world of make believe. He made and we believed.

Managing DNS has been seen as the Internet's first hard meeting point between technological solution and political and commercial interests. A technology not intended to manage trademarks, DNS became forced to work with them. Jon accepted and assumed the huge responsibility for his invention that this entailed. He chose to manage its consequences in IANA which is now forging its responsibilities into an independent global authority called ICANN. This type of personal assumption of management responsibility has been rare in the history of significant 20th Century science and technology. Inventors have almost always not been dominant in the management of their technology's adoption. Jon and a few others in our community have shown a way forward which those in the next century can learn from.
-- Christian de Larrinaga, idem

JDRP [Jones Day Reavis and Pogue] is a 1200-strong multinational law firm. Among its partners are Joe Sims and Louis Touton. These two lawyers, more than anyone else -- more than Ira Magaziner, more than the former Jon Postel, more than ICANN's "initial" and "interim" board members -- have defined the course that has led from the final days of Postel's IANA to the tortured dissolution of NSI's monopoly to the structuring of ICANN and, most recently, to ICANN's "Uniform Dispute Resolution Policy."
-- T. Byfield, "the roving_reporter no. 1"

I. Ampliação do conceito de propriedade intelectual. O conceito original de propriedade intelectual, estabelecendo um equilíbrio mais ou menos razoável entre direitos e recompensas do autor, por um lado, e o "bem" público, por outro, está a ser desvirtuado. Nos últimos anos, aumentaram as pressões sobre os estados para que fosse adoptada legislação aumentando a extensão dos direitos de propriedade intelectual. A duração do copyright é progressivamente aumentada: Com o rato Mickey em "perigo" de ficar livre da Disney, a legislação é alterada.

Na Europa, algumas grandes multinacionais, boa parte delas de origem americana, vão fazendo lobbying no sentido de ampliar os seus direitos, medidas que vão sendo defendidas internamente como essenciais para, paradoxalmente, "proteger a cultura europeia". O mesmo para as patentes de software, ou mais em geral "soluções técnicas de problemas técnicos" (ver exemplos), tudo supostamente para "acelerar" a "sociedade da informação" na Europa.

Na esfera da propriedade intelectual, caem objectos cada vez mais banais, ou aplicações banais de objectos já antes protegidos: o nome da empresa torna-se algo cada vez mais sagrado, em esferas cada vez menos intrínsecas ao mundo empresarial. Assim o "espaço de nomes" protegido é cada vez mais vasto. Por outro lado, vemos a apropriação de expressões banais, a privatização da própria linguagem: a AOL registou a expressão "You've got mail" e perseguiu outros que a usaram.

Esta explosão do que é considerado propriedade intelectual e do nível a que é considerada legítima está naturalmente relacionada com a própria Internet e outras tecnologias recentes. Basicamente, tratou-se de descobrir mais produtos para nos vender, mesmo aquilo que antes era grátis, e tornar o conceito legal. Em vez de pagarmos um livro, lê-lo e emprestá-lo a outros, há planos para pagarmos por cada visualização e não o podermos transferir; o texto "The Right to Read", do Richard Stallman, está já bem longe de ser ficção pura. Afinal, apenas uma expansão do conceito já conhecido de "pay per view".

Como disse o nosso leitor João num comentário sob o artigo anterior, "na nova economia as ideias abstractas, os nomes, a identidade têm um valor a que não estamos habituados". Mas esse valor não aparece por acaso ou direito divino (frequentemente resulta de leis passadas sob lobbying da "indústria"), nem é fatal que a sociedade tenha de se habituar a ele. Falta saber até que ponto ele será tolerável: que limites tem o direito a esses bens às vezes "intangíveis" e tantas vezes "instantâneos" (como os nomes no sistema DNS), face ao "bem" da sociedade? É de notar que mais que uma recompensa aos autores (que recebem uma parte muito pequena dos lucros), a "propriedade intelectual" (direitos, patentes, ...) é hoje em dia sobretudo fonte de rendimentos, moeda de troca e instrumento de pressão legal de grandes grupos empresariais. Na prática, o autor isolado fica frequentemente numa situação onde não é fácil defender os seus direitos. Idem para um pequeno detentor de domínio quando "atacado" por uma multinacional, embora tenha havido algumas excepções felizes.

A resposta a isto parece ser dada simplesmente pelas possibilidades que a própria Internet fornece, e pelos factos com que os grandes detentores de propriedade intelectual se confrontam agora. Sejam de origem legal, como com o software livre, ou de origem ilegal, como acontece já em grande escala com a circulação de alguma música. Um muito interessante artigo por Eben Moglen, professor de direito e história legal na Columbia Law School, defende que "o software livre, longe de ser um participante marginal no mercado de software comercial, é o primeiro passo vital no declínio do sistema de propriedade intelectual". Esperemos que sim, pelo menos na forma desvirtuada que vemos esse sistema cada vez mais assumir hoje em dia, e de que as tentativas da WIPO para "engolir" o DNS são mais uma amostra.

Será que uma base para soluções passaria por deixar de considerar o nome de um domínio estritamente propriedade de quem o usa?

II. Acoplamento do DNS a espaços de nomes do "mundo real". O Domain Name System é uma das pequenas grandes maravilhas em que assenta a Internet. Mas como citei acima, "não foi feito para gerir marcas registadas". Num mundo ideal, o sistema com os seus regulamentos originais poderia funcionar bem. Mas a Internet expandiu-se vertiginosamente de encontro ao "mundo real": os poderes político e económico começaram a olhá-la de outra forma. Os correspondentes interesses alargam-se mais e mais para a Internet à medida que esta se expande. A ganância e a vontade de controle (juntas tradicionalmente com uma boa dose de ignorância) vão abrindo feridas por todo o lado. Os tempos do Postel passaram, e a sucessora ICANN tem sido alvo de bastante controvérsia, acusada nomeadamente de ter uma "estrutura bizantina" (ver a ICANNWatch para algumas análises).

O acoplamento do DNS ao espaços de nomes externos resulta em boa parte da forma dos endereços que usamos na WWW, os URLs, construídos à base de endereços de DNS. Há quem diga agora que essa escolha foi particularmente infeliz. De facto não tinha de ser assim e existiram ideias alternativas. Se os identificadores das "páginas" não tivessem nada a ver com os nomes do Domain Name System, este podia talvez estar hoje bem mais feliz e sossegado. Só que a coisa foi como foi e agora as empresas adoram ter nomes curtinhos e sugestivos para usar na publicidade. Encaram o nome em DNS como parte da tal "propriedade intelectual", mesmo que seja um nome apenas semelhante ou vagamente relacionado e a ser usado para fins completamente distintos por uma criatura inocente. O mundo comercial entrou pelo DNS dentro como o proverbial elefante na loja de porcelana.

III. Escassez. Fora da Internet, há marcas comerciais semelhantes em domínios muito distintos de actividade e em regiões distintas. Com a globalização e a expansão do conceito de propriedade intelectual, mesmo aí se observam já problemas, com algumas marcas paranóicas com tudo o que seja vagamente parecido.

Na Internet, a situação exacerba-se. Em primeiro lugar, por causa da acessibilidade global. O serviço WWW de uma empresa "JKL" sediada em Irkutsk ou Massamá acede-se tão facilmente como o de outra "JKL" em Los Angeles.

Em segundo lugar, por alguma escassez no espaço de nomes. Parte desta é artificial: consta que o Jon Postel queria criar dezenas de novos domínios de topo a curto prazo, com mais a alguns a a aparecer todos os anos. Mas isso não aconteceu e só agora iremos ter algumas (poucas) estreias. O TLD ".com" ficou tão popular que todos querem usá-lo. E "there can be only one" para cada nome. Todas as entidades que já tinham esse nome fora da WWW o podem querer. Outras empresas, acabadas de criar e especialmente voltadas para a Internet, cobiçam naturalmente certos nomes muito especiais. Se não puderem (ou não ficarem satisfeitas com) possuí-lo sob um TLD regional, irão para a disputa do espaço .com/.net./.org.

Mesmo com os TLDs que já existem, a cobiça (ou a paranóia) é tanta que algumas empresas tentam registar-se em tudo, e há serviços criados para esse fim. Alguns "registrars" oferecem registo simultâneo não apenas sob os "3 grandes" mas também em muitos países e desde já o pré-registo sob novos TLDs apenas previstos.

IV. Falta de regulamentação. Se a colocação das empresas sob diferentes TLDs não for regulamentada e for permitida indiscriminadamente, a criação de novos TLDs acaba por ser derrotada. De acordo com o relatório do encontro da ICANN em Yokohama, há a intenção de regular mais os novos domínios de topo, mas tudo ficou ainda demasiado vago... (ver também a discussão no Slashdot).

Por outro lado, há queixas de falta de representatividade dos utilizadores na ICANN, e as (in)decisões do encontro mais recente parecem não ter ajudado.

* * *

Claro que há aqueles para quem o problema não existe, nomeadamente os que vivem da especulação ou do litígio associado... Para eles é apenas o "normal funcionamento do mercado". Pessoalmente, acho que até o "mercado" tem de ter limites algures. Para acabar, que isto já vai demasiado longo, recomenda-se uma "estorinha" para os mais "crescidos", a ler num intervalo entre secções de economia: "A Fábula dos Nomes".

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Referências
  • gildot
  • Condolences and Remembrances for Jon Postel
  • "the roving_reporter no. 1"
  • duração do copyright é progressivamente aumentada
  • a legislação é alterada
  • ampliar os seus direitos
  • patentes de software
  • "soluções técnicas de problemas técnicos"
  • ver exemplos
  • "The Right to Read"
  • artigo por Eben Moglen
  • tentativas da WIPO
  • controvérsia
  • estrutura bizantina
  • ICANNWatch
  • relatório do encontro da ICANN
  • discussão no Slashdot
  • parecem não ter ajudado
  • "A Fábula dos Nomes"
  • discussão sobre o portugal.tv
  • ICANN
  • Mais acerca dns
  • Também por jmce
  • Esta discussão foi arquivada. Não se pode acrescentar nenhum comentário.
    alguns comentários (Pontos:1)
    por joao em 25-07-00 13:40 GMT (#1)
    (Utilizador Info) http://www.explicacoes.com
    Sobre o futuro do livro:

  • O futuro do livro é mesmo o "pay per read". É bom para o autor, é bom para o leitor, só é péssimo para as editoras e outros intermediarios que neste momente ficam com o dinheiro todo das vendas. Não será possivel emprestar livros aos amigos? Bem, quem quizer emprestar livros aos amigos provavelmente pagará mais por eles. O que interessa é que o preço geral dos livros vai baixar e o dinheiro vai para quem o merece que é o autor. E a oferta de conteudos vai disparar porque qualquer um poderá editar os seus proprios livros. Se calhar em vez de olharmos para nos proprios como consumidores deveriamos olhar para nos proprios como potenciais editores...

    Sobre patentes:

  • Nos Estados Unidos os projectos de investigação são financiados com o valor futuro das patentes. O sistema de patentes é um pilar fundamental do sistema de investigação cientifica e os resultados estão à vista: há empresas privadas a fazer investigação em nanotecnologia ou biotecnologia que estão 10 anos à frente dos centros de investigação europeus.

    Sobre patentes de software:

  • A solução para o problema das patentes de software não passa por acabar com elas. Passa por reduzir os prazos e por criar uma base de dados com aquilo que é conhecido até ao momento. Essa base de dados poderá servir para anular patentes abusivas porque só pode ser patenteado aquilo que é novo. O direito à exploração das próprias invenções é um direito individual. Acabar com ele prejudica essencialmente os criadores.

    Acoplamento do DNS a espaços de nomes do "mundo real"

  • O único valor da amazon é o próprio endereço electrónico. Neste momento a amazon tem pouco mais que isso. Se amazon perdesse isso passaria a estar em pé de igualdade em relação a outra lojeca qualquer. Porque a confiança não se ganha de um dia para o outro. Já para não falar nos milhares ou milhoes de links que existem para a amazon. Isso tem um valor incalculavel para a empresa. Imagine-se que se criava o dominio .shop Quem devia ficar com o amazon.shop? Se não fosse a propria amazon ele seria para uma outra empresa qualquer que concerteza ia criar uma livraria virtual. O que seria uma actividade parazitaria...

    diferenças de pensamento entre o gildot e o slashdot

  • É interessante verificar as diferenças de pensamento entre o gildot e o slashdot. Assim, no gildot defende-se até ao extremo as marcas registadas e exige-se que uma marca esteja registada para que o dominio .pt seja registado. Proibe-se o registo de nomes genericos. No Slashdot defende-se a separação entre marcas e dominios e defende-se a liberalização total dos dominios de topo.

    dominios .pt e as marcas

  • Parece-me obvio que se pretendemos separar as marcas dos dominios então o dominio .pt tem que ser totalmente liberalizado. Não se pode defender as duas coisas ao mesmo tempo. Assim, tambem me parece obvio que se somos contra a expansão da propriedade das marcas para a internet tambem somos contra a forma como funciona o registo de .pt.

    o que fazer com os novos TLD?

    Quem tem direito a registar um .shop ? As lojas legalmente registadas ? E como é que uma loja na India vai provar que está devidamente registada a uma instituição sediada nos EUA ? E quantos burocratas são necessários para resolver isto.

    Tambem se propos que os conflitos fossem resolvidos após o registo. Mas já sabemos quem ganha os conflitos. A loja indiana não tem os mesmos meios de defesa que a loja americana, nem tanto dinheiro para gastar em advogados.

    Seja como for, qualquer sistema de controlo envolve burocratas. A ideia da internet era acabar com eles.

    dominios de topo livres

    O sitema de dominios de topo livres permitiria registar qualquer dominio de topo. A meu ver a internet so teria a perder porque isso ia destruir alguma da estrutura que a internet agora tem. Se fosse adoptado os legalistas iam ficar um pouco chateados quando reparassem na proliferação de amazon que ia aparecer. Se calhar isso ainda é pior que o comercio de dominios, não ?

  • Re:alguns comentários (Pontos:1)
    por jmce em 26-07-00 2:08 GMT (#2)
    (Utilizador Info)
    O futuro do livro é mesmo o "pay per read". É bom para o autor, é bom para o leitor, só é péssimo para as editoras e outros intermediarios que neste momente ficam com o dinheiro todo das vendas.

    Quem está a tratar do pay per read/listen/view? São os autores? Ou as editoras e grandes detentores de "conteúdo", que estão a tentar destruir o conceito estabelecido de "fair use", até mesmo a cópia para uso pessoal? A liberdade do comércio e dos autores também tem limites relacionados com a liberdade da pessoa (ou "consumidor", para quem prefere o termo). Os intermediários não pararam, e o discurso do preço é parte do marketing cor de rosa.

    A ideia não é pagarmos menos. É pagarmos mais.

    Se calhar em vez de olharmos para nos proprios como consumidores deveriamos olhar para nos proprios como potenciais editores...

    Bem vindo à WWW. Olhe à volta um dia destes... E não estou a falar do Stephen King e outras coisas das que costumam aparecer no Acontece e na "imprensa especializada".

    O sistema de patentes é um pilar fundamental do sistema de investigação cientifica e os resultados estão à vista: há empresas privadas a fazer investigação em nanotecnologia ou biotecnologia que estão 10 anos à frente dos centros de investigação europeus.

    As patentes como factor de progresso... Será tanto por causa delas? A Europa está isenta de patentes? Acha que a descrição do genoma humano devia ser propriedade intelectual? De qualquer forma, nem sequer falei das patentes em geral. Não contesto todos os usos de patentes, pelo menos na forma clássica. Mas quem prefere ver a educação, a ciência e a tecnologia europeias bloqueadas pelas patentes americanas e não percebe as limitações que elas impõem, nunca deve trabalhado em educação, ciência ou tecnologia, quando muito no comércio das ditas (até ao dia em que tiver que pagar direitos proibitivos por um banal sistema de comércio). Nada contra o comércio em si. Sim contra o comércio sem limites.

    A solução para o problema das patentes de software não passa por acabar com elas. Passa por reduzir os prazos e por criar uma base de dados com aquilo que é conhecido até ao momento.

    A solução para o problema das patentes de software parece ser mesmo acabar com elas (talvez os advogados discordem, por razões óbvias...). A verificação do que "é novo" falha redondamente nos EUA. E não é por falta de bases de dados.

    O direito à exploração das próprias invenções é um direito individual. Acabar com ele prejudica essencialmente os criadores.

    Os sistemas de patentes foram feitos para promover a divulgação de novas criações, protegendo os autores durante um tempo limitado mas não apenas os direitos deles. Esses sistemas foram já completamente desvirtuados. Os criadores a que se refere (e estou a falar dos que realmente programam, não dos conselhos de administração):

    • vêem o seu trabalho dificultado por, de um ponto de vista estrito, terem em cada bocado de código de verificar a potencial violação de patentes e ser forçados a procurar alternativas para algoritmos cada vez mais banais;
    • na prática é-lhes difícil enfrentar o processo e os custos de requisitar uma patente para as próprias criações.

    O resultado final é que apenas é factível criar no seio de uma grande empresa. De preferência uma muito grande, dado que as patentes funcionam como moeda de troca no mundo corporativo (inclusivamente em caso de litígio) e como instrumento de pressão para esmagar empresas mais pequenas. A Microsoft estudou a possibilidade de explorar o sistema de patentes como parte de uma reacção contra o software livre.

    Além disso, o direito à exploração das invenções é também da sociedade, e os sistemas informáticos desempenham hoje uma imensidade de papéis críticos.

    Para mais informação, directamente da boca dos criadores (e não dos jornalistas analistas), pode consultar http://lpf.ai.mit.edu/.

    Resposta curta: Shakespeare.

    O único valor da amazon é o próprio endereço electrónico. Neste momento a amazon tem pouco mais que isso. Se amazon perdesse isso passaria a estar em pé de igualdade em relação a outra lojeca qualquer. Porque a confiança não se ganha de um dia para o outro.

    Os açambarcadores de nomes apenas conhecerão o valor do nome. Mas o valor da Amazon é a história da empresa e a qualidade do serviço. Sim, existe o nome e existem os links. Mas se a Amazon me enviar uma mensagem de email a dizer que mudou para o domínio batatasfritas-g67yu2, eu vou comprar ao novo endereço. Apesar de não concordar com todas as atitudes da Amazon. Porque o que eu compro não é o logotipo (até gostava mais do antigo) nem o nome. É a qualidade do serviço, a atenção aos clientes. Talvez por isso dei especial atenção à Ashford.com quando a vi recomendada na Amazon, por exemplo. O nome interessa para a encontrarmos, mas o que tem valor para os tais consumidores, a longo prazo, é de facto a coisa designada, não a designação.

    Quem fez a Amazon não foram os anúncios de autocarro. Foi a fidelidade dos clientes e o pioneirismo (com excelente qualidade desde o início).

    Uma história que vem dos primórdios, a books.com. Antes de muita gente ouvir falar na Internet, quando ainda quase ninguém tinha ouvido falar de browsers, a books.com já vendia livros, com o catálogo acessível por telnet. Depois apareceu o www.books.com. A books.com também tinha um serviço muito bom e lembro-me bem de eu e vários amigos comprarmos livros lá por bastante tempo, mesmo já depois de nascer da Amazon (que também usei poucos meses depois de aparecer). No tempo em que havia uma página que ia indicando TODOS os sítios novos da WWW, era A loja de livros. Um dia a books.com mudou de donos. Os livros antigos sem copyright que lá eram distribuídos desapareceram, assim como alguns fóruns. A loja ficou engravatada, sobrecarregada graficamente, com interfaces a funcionar mal (e sobre Windows NT, por acaso... ou talvez não). Acabei por deixar de gostar de comprar la, e pelos vistos a atitude não foi rara. A loja tinha-se descaracterizado. Agora books.com é apenas mais um nome DNS no saco da Barnes&Noble.

    Alguns ficaram apavorados com os negócios da Internet quando a boo.com faliu. Julgaram que o problema era da Internet. Talvez o problema fosse da loja. Espreite uma análise curtinha do Jakob Nielsen (que por acaso também é dono de algumas patentes). Se a análise parecer superficial (mesmo que não aborde todos os lados da questão) ou o Gildor parecer um fórum ingénuo, pode sempre pagar 35000 dólares ao Jakob Nielsen por um seminário de um dia... :)

    Quem devia ficar com o amazon.shop? Se não fosse a propria amazon ele seria para uma outra empresa qualquer que concerteza ia criar uma livraria virtual. O que seria uma actividade parazitaria...

    Se a amazon.shop imitadora não fizesse um bom trabalho, não seria o nome a salvá-la. Hmmm, estou-me a lembrar do google.pt...

    É interessante verificar as diferenças de pensamento entre o gildot e o slashdot.

    Diferenças de pensamento entre o Gildot e o Slashdot? Bom, as cores são diferentes, o layout também, o Slashdot é comercial agora e o Gildot não é... :) O Gildot não tem um grande "pensamento oficial" como os jornais se dão ao luxo de ter. Tem vários, os de todos os que decidem participar e que certamente são capazes de discordar em milhentas questões. O meu pensamento não é mais "o pensamento do Gildot" do que o seu... No máximo, há um gosto muito frequente por software livre e Linux (já que são esses os assuntos dominantes para que o fórum foi criado). E algumas (poucas) regras de funcionamento.

    no gildot defende-se até ao extremo as marcas registadas e exige-se que uma marca esteja registada para que o dominio .pt seja registado.

    ??? Uns defendem isso, outros não. Nem sei qual é a opinião maioritária. Eu nunca defendi marcas registadas ao extremo, quando fora do seu contexto próprio. Embora compreenda que a tentativa de exigir o registo para parte reservada do domínio .pt seja interessante (regras futuras da FCCN).

    Proibe-se o registo de nomes genericos. No Slashdot defende-se a separação entre marcas e dominios e defende-se a liberalização total dos dominios de topo.

    Aqui não proibimos nada... Quanto a essa distinção entre os comentários aparecidos aqui e no Slashdot, parece-me não existir. Já vi ambas as opiniões em ambos os fóruns. Aliás, eu tenho muita simpatia, para dizer o mínimo, pela separação do DNS das marcas ou outra propriedade intelectual. Julguei que isso fosse claro. Veremos o que se consegue fazer no mundo real. As reclamações devem seguir para a WIPO, especuladores, et al, não para o Gildot... Ou talvez para a cobiça humana... :) Mas não acho trivial dizer que as regras da FCCN são piores do que a não existência de regras, a partir do momento em que vemos a tristeza da especulação e do litígio e se se criar um sub-espaço destinado ao mundo comercial com regras preparadas para ele, facilitando ao mesmo tempo o registo noutros domínios (pessoais, organizações sem fins lucrativos...). De qualquer forma, se eu tivesse soluções alternativas em que confiasse absolutamente já as tinha divulgado...

    Seja como for, qualquer sistema de controlo envolve burocratas. A ideia da internet era acabar com eles.

    Não exactamente, embora a burocracia inútil seja mal vista. Só que agora o mundo "real" entrou pela Internet. E infelizmente pode ser necessário alguma regulamentação até para proteger a Internet. Mais uma vez, se eu soubesse qual regulamentação funcionaria resolvendo os (óbvios) problemas que mencionou, já teria contactado a ICANN...

    O sistema de dominios de topo livres permitiria registar qualquer dominio de topo.

    Nesse sistema ainda nem pensei muito. Esquecendo mesmo as questões técnicas, prever os resultados de uma tal medida não me parece nada fácil....

    P.S. Sobre as questões de "valor" a longo prazo, sugiro o Cluetrain Manifesto...

    Re:alguns comentários (Pontos:1)
    por js em 26-07-00 14:01 GMT (#3)
    (Utilizador Info)

    Acho que não falaste de uma causa importante de problemas, e que talvez hoje seja mesmo a causa da maior parte dos problemas: As soluções. As soluções são grandes causadores de problemas. Na verdade, se no caso do DNS o problema é a especulação com nomes, a gente arrisca-se a fazer uma tempestade por nada. Que mal faz que especulem? Prejudicam alguém? Talvez faça mais mal tentar evitar a especulação...

    A única situação em que vejo a especulação prejudicar alguém é quando um nome tipo "pepsi" é registado no DNS por um esperto qualquer que aposta em que a verdadeira Pepsi prefere pagar-lhe uns trocos a andar a arrastar a coisa no tribunal -- gerando uma situação em que um crime (apropriação indevida de um nome) que compensa.

    Re:alguns comentários (Pontos:1)
    por joao em 26-07-00 14:53 GMT (#4)
    (Utilizador Info) http://www.explicacoes.com
    Parece que o gildot perdeu algumas mensagens inclusivé uma minha. Escrever cansa. Resumidamente:

  • o "pay per read" inviolavel é possivel tecnicamente. Embora seja mais dificil que as soluções tecnicas que impeçam a impressão se imponham nos proximos tempos. Ninguem vai comprar um livro para ler no computador. Quem compra livros quer ler num suporte parecido com o papel. Caso alguem o papel electronico acabe por se impor o "pay per read" inviolavel e intransmissivel é possivel e inevitavel.

  • É o proprio mercado que vai regular os abusos do "pay per read". Num mercado de milhoes de leitores (mesmo em lingua portuguesa há 160 milhoes de potenciais leitores) há vantagens publicitarias em ceder conteudos grátis. Os direitos de autor podem ser pagos pela publicidade gerada. Alias, não me admirava nada que aparecessem empresas a pagar para as pessoas lerem livros. Na nova economia o bem mais escasso não são os conteudos é a atenção do publico.

  • Na nova economia criam-se barreiras ao transporte de informação, porque a internet é cada vez mais complexa. Vão emergir profissões que consistem essencialmente em levar os conteudos certos (que são grátis) aos leitores certos, isto porque o tempo que um leitor passaria a procurar o que pretende é precioso.

  • Há uma difernça entre o leitor tipico do gildot e do slashdot. A ideia do software livre é uma ideia liberal mas que no gildot aparece contaminada pelo conservadorismo portugues. Se o software deve ser livre porque não os nomes ??

  • O software livre e ideias conexas teem um grande potencial na internet porque teem poucos entraves à reprodução (veja-se como as coisas gratuitas se espalham muito mais rapidamente que as pagas). Como o que é critico são os entraves à comunicação o software livre deve aproveitar esta vantagem. Software pago viaja mais lentamente. Sobre isto, há uma ideia engraçada: o software da microsoft tende a ocupar todo o disco duro disponivel (por maior que este seja) o que impede a instalação de software concorrente.
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